Emitir documentos e fazer exames pode ser algo simples para algumas pessoas, mas não para todas. Deslocamentos longos e esperas intermináveis nas filas do serviço público de saúde chegam a desanimar as pessoas de comunidades mais periféricas, como é o caso do Jardim Lapenna, em São Miguel Paulista, onde está localizado o Galpão de Cultura e Cidadania. Pensando nessas dificuldades, a Fundação Tide Setubal, em parceria com o Centro de Integração da Cidadania Leste (CIC) e a Sociedade Amigos do Jardim Lapenna, promoveu a Minijornada da Cidadania, em 9 de agosto. Além desses organizadores, também foram parceiros do evento a UBS/ESF Jardim Lapenna, que foi a responsável pelos exames e pelas orientações de saúde; Teruya, com os cortes de cabelos; Novety Cosméticos, com a limpeza de pele; IIRGD, responsável pelas emissões de documentos; a Ótica Social, que oferecia óculos a preços módicos para quem saía dos exames oftalmológicos; a AES Eletropaulo, que cadastrava os frequentadores na Tarifa Social; e a CEF, responsável pelo Programa Crescer de apoio ao microempreendedor.
O evento tomou todo o dia e disponibilizou para a população serviços como emissão de carteira de identidade, carteira de trabalho, certidões de nascimento, casamento e óbito, exames de vista, pressão, diabetes e tuberculose, agendamento para a defensoria pública, cadastramento na tarifa social da Eletropaulo, microcrédito da Caixa Econômica Federal e tratamentos estéticos, como corte de cabelo, limpeza de pele e maquiagem.
“Ações como essa devem ser repetidas em todo lugar onde existem comunidades. Muita gente não tem condições de se deslocar para tirar documentos e pagar por eles, ou não tem acesso aos serviços de saúde. Aqui é tudo gratuito”, disse Aldo Antunes, 57 anos, subprefeito de São Miguel Paulista, que veio prestigiar o evento acompanhado de Célia Assunção, 49, chefe de gabinete da subprefeitura. Ela também ressaltou a importância do evento. “Dá para ver na cara das pessoas como estão felizes com a iniciativa”, disse ela. A lentidão dos serviços de saúde foi o que levou muita gente ao Galpão naquela sexta-feira. É o caso de Daniel Luis, 64. Ele visitou o evento para fazer o exame oftalmológico, pois possui alguns problemas de visão. “Onde faço o meu tratamento, chego a esperar seis meses para ser atendido”, contou ele. Essa também foi a motivação de Alexandre Souza, 38. “Se não fosse o evento, eu teria que ir ao posto de saúde pegar encaminhamento. Com certeza, ia demorar.”
Fugir da burocracia e das taxas de cartórios e serviços de emissão de documentos também atraiu muita gente. Renilda Nunes, 40, é de Garanhuns, interior de Pernambuco, e precisava emitir a segunda via de sua certidão de nascimento. Para tal, ela precisaria ou viajar até a cidade ou retirar a documentação a distância. “Entre Sedex, carta registrada, mais o valor que me cobrariam pelo serviço, eu gastaria, pelo menos, uns R$ 200. Aqui não, é tudo gratuito e eu posso fazer perto de casa”, disse ela.
Telma de Oliveira, 39 anos, frequenta as atividades do Ação Família no CEU Três Pontes e, assim, ficou sabendo do evento. Ela tinha que atualizar as certidões de nascimento de suas filhas e fazer um novo exame de vista para atualizar sua carteira de habilitação. Ela aproveitou a Minijornada da Cidadania para fazer as duas coisas num lugar só. “Eu teria que ir ao cartório, pagar, passar por burocracias. Com este evento aqui, ficou tudo mais simples”, disse ela, que também ressaltou a importância de ações do tipo. “As pessoas se sentem esquecidas pela política. Quando instituições como a Fundação Tide Setubal têm a ideia de fazer ações como essa, a população se sente acolhida.”
A proximidade com a sua casa, e a subsequente facilidade, foi o que levou Darana Alves, 17 anos, ao evento. Ela foi ao Galpão para fazer limpeza de pele e tirar a carteira de trabalho e disse que, se não fosse o evento, ficaria sem fazer essas coisas. “Sou da Bahia e cheguei há pouco a São Paulo. Nem sei ainda aonde devo ir para tirar a carteira de trabalho.”
Os tratamentos estéticos também fizeram bastante sucesso entre os visitantes. Carminha Borges, 57 anos, foi fazer limpeza de pele e maquiagem. “Não tenho nada de especial hoje; depois daqui, volto para casa para fazer faxina toda maquiada”, brincou ela. “Achei o evento muito bom para a nossa cidadania. Tem muita gente que não tem dinheiro nem para cortar o cabelo, então, é uma superoportunidade”, concluiu Carminha.
O filho de Mari Lima, 46, faz capoeira no Galpão. Ela ficou sabendo da possibilidade de realizar os tratamentos estéticos no local, fez limpeza de pele e cortou os cabelos, o que não faria se não fosse a Minijornada da Cidadania. “Se não fosse fazer aqui, iria ao salão e teria que pagar, aí eu nem ia fazer. Limpeza de pele é muito caro”, disse ela.
Além da emissão de documentos, dos exames e tratamentos estéticos, o evento contou com algumas palestras. Quem esperava para fazer os exames de diabetes e pressão ouvia, antes, uma apresentação sobre hanseníase e tuberculose ministrada pelas agentes comunitárias de saúde Rosarinha de Oliveira, 43, Eliana Rodrigues, 35, e Maria Clara de Almeida, 46. “Quando há eventos como esses, nós comunicamos a comunidade. Cada uma de nós atende cerca de 200 famílias, imagina o boca a boca que a gente não faz”, disse Eliana.
Outra palestra que aconteceu na Minijornada da Cidadania foi a ministrada por Maria de Lourdes do Nascimento, 55 anos, do Instituto Susan G. Komen for the Cure, sobre o câncer de mama. Cerca de 20 mulheres assistiram à apresentação e tiraram suas dúvidas sobre a doença. “Conseguimos atingir um bom número de mulheres, mas temos que atingir sempre mais”, disse Maria de Lourdes.
A Minijornada da Cidadania realizou mais de 100 cortes de cabelos e exames de vista, mais de 50 emissões de certidões e mais de 30 emissões de carteiras de trabalho e RG.