Assim como acontece com a juventude que participa dos projetos desenvolvidos pela Fundação Tide Setubal, o trabalho realizado pelo Programa Ação Família busca fortalecer e estimular as famílias para o protagonismo na melhoria de sua qualidade de vida. Em 2013, um sistema de monitoramento e avaliação apoiou o levantamento de informações para definir metas a serem alcançadas pelas 148 famílias participantes. Os desafios estão relacionados a vulnerabilidades nas dimensões: educação, saúde, habitabilidade, solidariedade vicinal e trabalho e renda.
O momento do cadastramento ajuda a conhecer melhor a realidade das famílias. No grupo de 2013, há 146 mulheres e dois homens. A média de idade é de 41 anos. Já a população total dos familiares dos inscritos é de 690 pessoas, sendo 51% mulheres e 49% homens, com a maior parte dos membros com idade entre 10 e 14 anos (filhos, netos e enteados). Em relação à educação, 43% das mulheres têm ensino médio concluído e 28% de seus companheiros também. A renda per capita de 36% das famílias do Programa Ação Família (PAF) é de até um quarto do salário mínimo. Segundo o IBGE, em São Paulo, 2,77% das famílias apresentam essa renda per capita e, no Brasil, 9,16%, ou seja, o Programa atua em um cenário de alta vulnerabilidade.
Os dados iniciais possibilitam alguns encaminhamentos e orientam, também, a formatação das reuniões socioeducativas, eixo principal do Programa. Esses encontros quinzenais visam desenvolver habilidades e competências pessoais e relacionais, facilitar o acesso a serviços públicos do território e estimular maior participação em movimentos comunitários. Vale destacar que, na avaliação do Programa, as visitas domiciliares deixaram 79% dos inscritos muito satisfeitos e 21% satisfeitos. Oitenta e dois por cento se disseram muito satisfeitos com as reuniões socioeducativas e 18% se mostraram satisfeitos.
Atento à importância da participação das famílias no universo escolar e à relação escola-comunidade, o Programa realiza quatro grupos nas escolas da região. A parceria com a EMEF Armando Cridey Righetti, EMEF José Honório e CEU Três Pontes (com famílias de alunos do infantil e do ensino fundamental) tem também como objetivo contribuir para o diálogo, estimulando a participação e o compartilhamento de responsabilidades na educação de crianças e jovens (leia mais em Fortalecimento). Vale destacar que, entre os filhos e enteados dos inscritos no PAF, 55% cursam ou concluíram o ensino fundamental, o que justifica, também, a ação nas EMEFs. Os demais grupos acontecem no Galpão de Cultura e Cidadania e na organização Procedu.
Entre as dimensões trabalhadas, a saúde é o eixo com vulnerabilidade mais frequente em todos os espaços onde o Programa acontece. Saúde da mulher e de adultos e idosos, atendimento odontológico para crianças entre 4 e 17 anos e acompanhamento a deficientes na família são os focos de atuação do Programa. A falta de médicos, a dificuldade para agendamento de consultas, além da pouca compreensão sobre a Estratégia de Saúde da Família e o trabalho das agentes de saúde, são queixas comuns na abordagem sobre o tema. Diante desse diagnóstico, a participação da equipe da UBS nos encontros com as famílias foi uma das alternativas escolhidas para trabalhar melhor o tema. Além de explicarem o funcionamento das unidades e dos programas de saúde, os profissionais se aproximaram dos moradores e contribuíram com esclarecimentos nas atividades sobre hipertensão, diabetes e exames de prevenção para saúde da mulher.
A saúde do idoso também entrou em pauta com as reflexões sobre envelhecimento ativo e saudável, direito dos idosos e aposentadoria, realizadas com apoio do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia. O encontro sobre álcool e drogas, realizado pelo Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (Capsad) de São Miguel e Ermelino Matarazzo, foi muito rico e com inúmeros relatos sobre o desafio de ajudar os participantes a abordar a questão, principalmente do álcool na família. Entre crianças e jovens, o tema da saúde bucal recebeu apoio da Odontoprev, parceira do projeto com atendimento para esse público. Nos cinco encontros sobre saúde, a abordagem não focou só temas específicos, mas destacou, também, uma constante convocação à prevenção e a necessidade da atenção de cada um para os cuidados com a saúde. Na análise das famílias com até 12 meses de Programa (veja gráfico abaixo), houve melhora em três componentes na área da saúde e agravamento de dois deles. Em azul escuro, o percentual de vulnerabilidade na entrada no programa; em azul claro, o percentual após 12 meses.
Apesar de ser um tema de trabalho específico do Programa, a habitabilidade e solidariedade vicinal se conectam à saúde, já que as condições de organização e limpeza e a infraestrutura da moradia influenciam diretamente na ocorrência de determinadas doenças. Nesse sentido, os encontros sobre moradia procuraram favorecer a reflexão sobre a disposição de móveis e utensílios, higiene/organização e aproveitamento de espaços para melhorar as condições da moradia. O descarte do lixo e o saneamento foram abordados, impulsionando a responsabilidade e o papel de cada um também no cuidado e na conservação do seu entorno.
Além das reuniões socioeducativas, uma parceria com o Instituto Azzi possibilitou a melhoria de moradias de famílias selecionadas do Jardim Lapenna, onde está o Galpão de Cultura e Cidadania, espaço sob a gestão da Fundação Tide Setubal. Após a visita a 23 moradias indicadas pelas agentes de saúde e pela equipe do Programa, nove delas foram escolhidas a partir de critérios como risco social, número de crianças na casa e reparos emergenciais. Os projetos selecionados, com apoio também da Universidade Cruzeiro do Sul, receberam até R$ 2 mil do Instituto Azzi para as reformas. Ao final, as famílias devolveram 30% para um fundo em prol da comunidade. No total, 40 pessoas foram atendidas diretamente pelo projeto, que terá continuidade em 2014.
No sistema de monitoramento e avaliação, a dimensão habitabilidade também apresentou melhora em todos os índices que a compõem entre as famílias com até 12 meses de participação.
A preocupação com o entorno presente nas discussões de habitabilidade se alinha ao eixo solidariedade vicinal, que tem como indicador a participação comunitária dos integrantes do Programa. Na abordagem sobre a relação com os vizinhos, apesar de reconhecerem que “ninguém vive sozinho”, aparecem: a dificuldade na comunicação e a “falta de educação”. Em um sentido mais amplo, o da mobilização comunitária, parte do grupo aponta a acomodação das pessoas como um problema para as conquistas maiores e reforçam, ainda, que a responsabilidade é do governo. Nesse cenário, o trabalho do Programa foi demonstrar a importância da relação de vizinhança para um convívio equilibrado e também apresentar formas de participação como fóruns locais e movimentos de moradores, como o Fórum do Jardim Lapenna (leia mais em Fortalecimento), conselhos gestores e espaços comunitários, incentivando a participação.
Na avaliação realizada inicialmente, 14% das famílias tinham alguma participação comunitária. No final de 12 meses, o Programa identificou movimentos ainda tímidos de abaixo-assinado para asfaltar ruas e para limpar terrenos e a presença em alguns fóruns. A participação dobrou, chegando a 28% dos inscritos no Programa.
Alterar o ciclo de pobreza requer ampliar possibilidades de acúmulo de capital humano, ajudando a romper com uma realidade dura e sem oportunidades de acesso. A renda é fator determinante para transformação na realidade das famílias e impacta diretamente nos indicadores de avaliação do Programa Ação Família. Ao analisar o cadastro de seus participantes, os dados revelam que 36,3% têm renda per capita de um quarto do salário mínimo. Quarenta e oito por cento delas recebem algum tipo de transferência de renda. Desse total, 78% são atendidas pelo Programa Bolsa Família e 24% recebem renda mínima. O valor transferido varia de R$ 32 a R$ 300, sendo que 48% recebem entre R$ 100 e R$ 190.
Verificar a situação dos cartões do Bolsa Família foi a ação mais imediata no trabalho de apoio ao trabalho e renda. Após esse diagnóstico, 28 famílias foram encaminhadas ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Na maioria dos casos, o benefício estava bloqueado por falta de atualização cadastral. Alimentar as oportunidades de aumentar a renda familiar também esteve entre os desafios do Programa, por isso, em todos os encontros, cursos profissionalizantes para jovens e oportunidades de trabalho foram constantemente divulgados.
Além de informar, o PAF ofereceu formações ao longo do ano, com 16 módulos de qualificação profissional na Oficina Escola de Culinária do Jardim Lapenna, oito deles realizados pelo Sesi e oito financiados pelo Instituto Lojas Renner, parceiro do projeto. Confeitaria de bolos, cupcakes e doces modelados para festa, comidas de boteco, minipadaria, receitas de Natal e Réveillon e saladas gastronômicas compuseram o cardápio do ano, conduzido por professores do Sesi, os chefs Lúcio Roberto e Daniela Romão, do Costume Popular, iniciativas apoiadas pelo Fundo Zona Leste Sustentável. A chef Mara Salles, do premiado restaurante Tordesilhas, também esteve na Oficina em mais uma edição de seu esperado curso anual. No total, a oficina realizou 400 certificações de aperfeiçoamento profissional para 131 mulheres que participaram de três ou mais cursos.
A avaliação final aponta que 57% dos inscritos estão muito satisfeitos com a Oficina Escola de Culinária e 36%, satisfeitos. A maioria desenvolveu novas habilidades e competências para o mercado gastronômico. Maior número de pedidos e diversificação na linha de produtos com técnicas desenvolvidas nas oficinas têm contribuído para o aumento da renda dos participantes. Além de avaliarem a Oficina Escola de Culinária, os participantes são ouvidos sobre as ações do Programa Ação Família e elencam o que mudou na vida com essa participação.