Núcleos envolvidos
(Clique aqui e saiba mais)




ação família

Jovens participam de expedição de nove dias na Serra da Mantiqueira

No dia 29 de junho, por volta das 8h da manhã, 13 jovens aguardavam ansiosos às portas da EE Pedro Moreira Matos para partir em uma expedição de nove dias para a Serra da Mantiqueira.

A iniciativa é do projeto Qualidade de Vida, desenvolvido pela Fundação Tide Setubal em parceria com escolas públicas da região, desde janeiro, com o objetivo de impulsionar o trabalho por meio de três pilares essenciais: alimentação, meio ambiente e esporte. A partir desses pontos, é possível desenvolver novas reflexões e ações de qualidade de vida no território onde se vive.

Nas discussões com grupos de professores da EE Pedro Moreira Matos, a equipe do Qualidade de Vida identificou que a escola enfrentava problemas na relação dos jovens, gerando, inclusive, situações de violência na escola. “Conflitos entre jovens se dão por uma busca da identidade. Quando ele está num espaço no qual não se sente protagonista, não descobriu algo com o que se envolver, ele entra numa luta para ter vez e voz, que pode vir por meio da violência”, diz Isabel Brunsizian, coordenadora do Qualidade de Vida.



Na busca por uma solução para essa questão, o projeto Qualidade de Vida estabeleceu parceria com o Projeto Azimute, que realiza expedições denominadas autossuficientes. Meio ambiente e esporte se unem nos desafios práticos dos esportes de aventura. “A Fundação Tide Setubal abriu as portas da escola para nós”, conta Andreas Martim, 37 anos, um dos monitores do Azimute responsáveis pela preparação dos jovens e por acompanhá-los durante a expedição. O projeto tem como objetivo estimular o desenvolvimento pessoal desses jovens pelos esportes de aventura, como caminhada, canoagem, escalada e cachoeirismo, além de estimular o trabalho em equipe e a articulação dos jovens entre si por meio de experiências reais.”

Antes de partirem para a viagem, os jovens participantes passaram por uma série de encontros com o objetivo de formar e fortalecer o grupo que vai para a expedição. Assim, eles participaram de atividades colaborativas que reforçam a importância do trabalho em equipe. O importante é que eles formem um grupo coeso até o momento da viagem, pois, lá, devem funcionar muito bem como uma equipe. “Foi difícil a preparação porque a gente não conhecia nada, nem se conhecia entre si. Nesses dias, tivemos que formar um grupo e começar a se dar bem para participar”, conta Karoline Pardim, 17 anos, uma das jovens que participaram da expedição. Além dessas dinâmicas, os jovens passaram, também, por uma oficina especial para a arrumação das mochilas que levariam à expedição. “Ficamos mais de duas horas para arrumar a bolsa”, conta Davison Nascimento, 15, outro jovem que participou da expedição.

Nos primeiros dias de expedição, a equipe do Projeto Azimute ensina a montar barraca, usar fogareiro, cozinhar, montar as rotas e o acampamento. Com o passar dos dias, os monitores vão se afastando dessas funções e passam a deixá-las para os próprios jovens, que se tornam responsáveis por essas atividades. Isso faz parte da aprendizagem deles e tem como objetivo estimular a autonomia e a aprendizagem por meio dos próprios erros. Se os jovens errarem o caminho que devem seguir e isso não for criar problemas maiores para o grupo, a equipe deixa que errem.



Pais aguardavam com seus filhos o embarque para a expedição. Alguns estavam muito apreensivos, como era o caso de Andressa Nascimento dos Santos, 33 anos, mãe de Davison. “Eu estou um pouco preocupada, mas acho que vai ser bom para ele aprender a se virar sozinho”, disse ela, que também contou que, a princípio, não tinha autorizado a participação de seu filho, mas, depois de participar de uma reunião com os monitores do Projeto Azimute e coordenadores do projeto Qualidade de Vida e ver que seu filho não estaria desamparado, concordou.

Saber que sua filha não estaria sozinha também foi o que motivou Juncio Pardim, 35, pai de Karoline. “Algum dia, os filhos têm que tomar um rumo, então deixei ir, até porque ela não vai estar só”, diz ele. Outra razão também motiva bastante Juncio. Quando adolescente, ele viveu em Rondônia, no meio da floresta amazônica. “Lá, a gente comia o que caçava, dormia até em cima de árvore para os bichos não pegarem a gente. Acho legal ela viver uma experiência como a que eu tive em minha adolescência”, conta ele.

Com relação às expectativas dos jovens, Kawane, 17 anos, explicou bem: “Estou parecendo uma panela de ensopado, com um pouco de tudo misturado, medo, animação, ansiedade”. Ela contou, também, que decidiu participar da expedição para ter uma experiência diferente do seu dia a dia. “Nunca passei por nada assim. A experiência mais próxima disso que já tive foi ficar sem água. Vai ser difícil esses dias sem xampu, creme”, brincou ela, que, apesar dessas dificuldades, não desanimou. “Resolvi participar porque é uma oportunidade boa. É importante aprender a se virar sozinho, sem conforto.”



Já Davison se preocupava com o cansaço físico que a expedição exigiria. “É uma experiência nova, vencer medos e obstáculos, como o frio, o cansaço de andar o dia inteiro carregando a mochila”, disse ele, que também tinha expectativas pelo retorno. “Espero estar diferente quando voltar da expedição, com um pensamento diferente sobre a vida. Lá, vamos superar obstáculos e isso vai nos ensinar a superá-los na vida”, concluiu.

Antes de sair para a expedição, os jovens responderam a um questionário em que se avaliavam os quesitos que o projeto busca trabalhar, como trabalho em grupo, formação de lideranças, capacidade de lidar com desafios e habilidades comunicativas. No retorno da expedição, os jovens responderam ao mesmo questionário e avaliaram no que participar da expedição influenciou o crescimento pessoal deles.

O retorno

Por volta das 16h do dia 7 de julho, alguns pais aguardavam o retorno de seus filhos. Cida Martins, 75 anos, avó de Emily Martins, 15, uma das jovens que participaram da viagem, foi buscá-la no horário do retorno e contou um pouco de como foi para ela essa experiência. “Não adiantava eu falar não para a Emily porque ela estava doida para ir. Mas acho que ela tem que ganhar o mundo.” Outra avó aguardando a chegada dos jovens era Maria Nívea, 56, que esperava Davison Nascimento. Ela conta que a preocupação com o que acontecia com o seu neto durante a expedição chegou a tirar-lhe o sono. “No domingo, fui à igreja e fiz uma oração por todos que estavam lá”, contou ela.

Às 17h, por fim, a van chegou com os jovens. Eles fizeram muita festa ao avistar a entrada da escola e desceram do veículo muito animados. Ansiosos para chegar em casa e tomar um banho quente depois de tantos dias sem um chuveiro, muitos deixaram o local quase imediatamente. Emily Martins, antes de partir, contou um pouco de sua visão sobre a expedição. “Para mim foi uma lição de vida. Estávamos fora da escola, mas estávamos aprendendo”, disse ela, ressaltando a importância do trabalho em equipe por meio de uma experiência vivida durante a expedição. “A gente estava seguindo a trilha e todo mundo atolou na lama. Para conseguirmos sair, precisamos da ajuda dos outros, do trabalho em equipe”, contou. Davison também destacou o trabalho em equipe: “Tudo o que fazíamos era em grupo, um ajudando o outro”. Igor Anastacio, 16, concordou: “Aprendi a força do grupo e a não agir com individualidade”.

“Não tenho palavras para explicar, só estando lá para saber como é bom”, disse Yoran dos Santos, 15 anos. Ele também ressaltou os aprendizados que conquistou com a experiência. “Aprendi a lidar com o meio ambiente, com o psicológico e com as situações de dificuldade.” Cozinhar foi um dos aprendizados elencados por Davison. Ele, que não sabia cozinhar, aprendeu a fazer panqueca, pão de queijo, pizza e arroz e feijão. Também aprendeu a ler mapas para mudar de acampamento. “Essa experiência mudou meu caráter, me fez pensar no próximo e ajudar quem precisa.”